Sexta-feira, 01 de Fevereiro de 2013

Há pessoas que pelo simples facto de estarem já me irritam. Não são reais; soam a falso, não existem!  Não são nem estão... Têm!

Temos que vê-los porque presentes, densos, compactos. Há que suportá-los porque lhes é devido aquele espaço pelo simples facto de o ocuparem - são matéria. Apenas!

E é este encarar do inevitável que faz acordar em nós tudo o que há de mais primitivo e brutal. Nem sempre por quererem penetrar no nosso espaço mas por serem demasiado palpáveis. Ainda que estejam no deles. E é bem pior quando estão no nosso. Sentem-se ali. Pressentem-se. Não voam, não vagueiam. Nem sequer esvoaçam. Andam, pesadamente. Pisam, esmagam. Prejudicam tudo e todos com a impunidade de quem só TEM. São vizinhentos!

Não nos olham de frente. Olham através de nós, perfurando, tentando encontrar algo para espezinhar e destruir, pelo caminho. Deliram se o conseguem. Não o delírio salutar duma alegria exaltada de quem com o pouco conseguiu muito; mas o delírio cáustico e negativo de quem do tudo conseguido fez o nada. Nada mais que o nada! São frustrados e frustrantes. E é, sem dúvida, frustrante tê-los ao pé da porta!

Todos querem a proximidade de vizinhos, amigos sempre à mão, a quem recorrer, gente boa a quem apoiar e que nos apoie sempre que preciso. Verdadeiros familiares eleitos, escolhidos. Mas eis que nos saltam e assaltam os vizinhentos! Porquê a nós? Nem, ao menos, uns corriqueiros vizinheiros, puros e simples... Uns daqueles companheiros de porta-de-casa comuns que, apesar de pouco terem a ver connosco, coexistem sem esmagar nem atropelar.

Para  quem goste de acamaradar e conviver, é dose! Pior ainda, foi, é e será dose! Irremediavelmente. Daquela insuportável até ao mais comum dos mortais. Daqueles mortais bem normais; seres cuja matéria envolve uma essência que pensa e sente, saboreando o bem ou sofrendo com o mal dos outros. Afinal, como "quase" todos nós...

Tem sido cansativo. Tivemos que aprender a estar em guarda, dentro da nossa própria casa. Sem descanso! É que à menor distracção correm-se riscos. Queixas, ataques, denúncias. E quanto trabalho exaustivo para chegar à trincheira!

E o martírio parece não ter fim. A sede de martirizar dum vizinhento é inesgotável. Cultiva o mal afincadamente, requintadamente!

Medidas? Jogar com as mesmas armas? Para quem está habituado a viver com espírito aberto e são é uma decisão difícil de tomar. Nem a sua mudança será legítimo desejar. Nem à guisa de praga a outro vizinhento qualquer de  outras paragens... Seria egoismo. Teria remorsos, certamente. É que em termos de vizinhentos este, de todos é REI. É duma espécie malvada, avizinhada!!!

Só há uma arma para a vitória final - AGUARDAR! Aguardar tranquilamente, pela certeza de que a matéria que cada vizinhento ostenta pomposamente é irremediavelmente oca. Um golpe certeiro, frontal e estoiram qual abóbora. E com a certeza de que esse dia há-de chegar, muitos quererão testar nele a pontaria...

 

Não podia ter deixado de "dedicar" umas palavrinhas a uma "classe" de pessoas que serve para pouco mais que infernizar a vida de quem não tem outra culpa que a de viver nas imediações. Pode ter qualquer nome: Tiagueiro Vizinhento, Tiaguento Avizinhado...Tanto faz. Basta adaptar o nome  e tenha a palavra a raiz que tiver, são seres que nem precisam de ter género nem número. Só era necessário que estivessem bem longe!!! E que, para nos esquecermos deles, enquanto estão por perto, nos pudessemos mesmo iluminar com o saber do grande Padre António Vieira e afirmar convictamente que "temos saudades do futuro". Haja esperança!   



publicado por Milú Ruas Basso às 00:33
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