O TESTE DE PORTUGUÊS DO 4º ANO, EM 7/5/2013
Pondo de lado todo o tipo de politiquices, começo por dizer que não sou contra os exames como forma de avaliação da eficácia dum método de ensino e a correspondente aquisição de conhecimento por parte dos alunos. E sou a favor dos exames, também, porque são uma forma de ir preparando as crianças, os futuros adultos, para os muitos “exames” com que a vida os irá abalroar. É discutível… Como tudo, evidentemente!!
Agora, o que excluo, veementemente, é que para se avaliar seja quem for se use a charada ou qualquer outro meio desadequado, seja à idade, ao grau de ensino do avaliado, ao tempo atribuído... É injusto, desumano, traumatizante e inútil. Sobretudo não é de todo admissível que se ignore a inevitável falta de concentração do aluno, face ao momento enervante por que está a passar. E muito menos é desculpável que uma tal atitude parta de educadores que deveriam ser sensíveis à idade das crianças que vão estar sujeitas a uma tal forma de avaliação. Fazê-los optar, por exemplo, entre “um conto ou uma narrativa cheia de fantasia”, obrigá-los, num momento de tensão como o de um exame, a descortinar, entre várias hipóteses, qual a data certa dum determinado acontecimento, o número de espécies descobertas ou já anteriormente estudadas, as datas das expedições…é dose! Seguramente muito adulto não o teria feito. Será que não há mesmo hipótese dum meio termo neste País?! E não quero mesmo dizer que as coisas têm que ser simples pois também estas podem ser consideradas desadequadas. No meio termo é que está a virtude!
Nem questiono que sejam interpretados mais que um texto (até porque foi pelo método, por vezes, providencial do “X”)! Já nem questiono que, enquanto isso, a gramática tenha sido quase ignorada! Mas tenho que dizer que seria preferível terem dado ao aluno mais hipóteses de mostrar ao examinador a sua capacidade de jogar correctamente (ou não) com as palavras da sua língua. Mas será que é de se exigir um bom desempenho da Língua Portuguesa a alunos de 10 anos, servindo-se dum texto que, além de confuso, termina com uma demasiado longa “procissão” da conjunção “e”?! Evidentemente não é culpa do autor; ele não pretendeu, certamente, mais do que informar sobre os importantes resultados de algumas expedições valiosas, sem qualquer preocupação de correcção linguística. Mas, se para o autor deste relatório entendo o texto totalmente aceitável por se tratar dum simples apontamento de trabalho, julgo ser completamente inadmissível que algum profissional do ensino se tenha servido dele para um teste de Português a ser feito por crianças. Espero que os alunos não se tenham apercebido de tais “deselegâncias gramaticais” e que os professores que vão corrigir os testes tenham em consideração que não é expectável que a sabedoria do aluno tenha de exceder a de quem é suposto avaliá-lo e, muito menos, de quem tenha elaborado o teste. Quanto ao segundo texto, pelo menos é adequado à idade dos alunos. Deliciei-me a lê-lo em criança. Por acaso, li-o em inglês... porque estava a estudar inglês! Talvez por isso, me tenha questionado se não haveria em Portugal nenhum escritor português à altura de brindar as nossas crianças com um textozito de algum dos seus livritos?!
Enfim, uma decepção! Talvez, admito, que me tenha decepcionado por ter criado algumas expectativas que estou a constatar serem só sonhos! Mas, assim, como assim… para quê aborrecermo-nos? Afinal os testes até representam apenas 25% da vida escolar dos alunos! E até lhes dão a hipótese de serem repetidos lá mais para o verão!...Felizmente, vivemos num País que, embora cultivando o desperdício (de tempo, de papel, de esforços, de pessoas, de paciência, de dinheiro…), continua a conseguir prolongar a sua esperança de sobrevivência.
Este episódio da vida portuguesa fez-me lembrar os tão contestados testes de condução. É difícil entender o que neles está em jogo! Será testar a sorte e a aptidão de resolver charadas do futuro condutor ou a sua capacidade de se saber comportar ao volante? Será que querem mesmo saber se ele está apto a conduzir, a respeitar os sinais de trânsito e a não ter um desempenho incorrecto ou perigoso?
E… será que ainda ninguém compreendeu que não se está no melhor caminho com estes tipos de avaliação?! É que o resultado está aí por essas estradas fora… Não se queixem se qualquer dia acabarmos a andar de triciclo! No caso do ensino, em geral, e da nossa língua, em particular, tudo fia mais fino e ainda podemos acabar a ter de abandonar o Português e a preferir o… Chinês, ou outra língua qualquer!!!